Escreve-vos hoje um novo cronista (leia-se “suplente” da equipa que só aparece quando a variação de altimetria do percurso não excede os 42 cm) e que não resiste a fazê-la na primeira pessoa, ou seja na única mesmo, pois os restantes elementos da equipa raramente os viu.
Lançado o réptil pelo Luís Pires para uma volta na Lezíria logo pensei: “Aí está a oportunidade ideal para tentar conseguir um lugar na equipa principal”. Perfil plano apesar da subida às Portas do Sol, algum asfalto e percurso em estradão de terra batida em bom estado.
Ultrapassada a dificuldade inicial de levantar às 7h da matina, às 8h e 05m lá estava à porta do Seabra para o café inicial e pouco depois com as montadas de duas rodas nas montadas de quatro rodas lá rumámos a Telheiras para reunir com o resto da equipa. Aqui a visão à chegada era a do Júlio a atravessar a estrada repetidamente, o que pensei tratar-se de uma demonstração de elegância conseguida à conta dos seus novos e já célebres calções profissionais. Mas não, pretendia apenas que o Luís abrisse o portão para estacionar o Punto…
Uma passagem pelos Olivais para recolher o mentor da prova, e por volta das 9h40m lá estacionávamos no cais da bela localidade de Valada (sim, essa mesmo que graças aos últimos Invernos secos anda um pouco esquecida, a par com Reguengo do Alviela) que esperava ansiosamente a nossa chegada. Penso que era mais para ver os calções do Júlio… Constituição da equipa à partida, duas Rockrider, uma Specialized, uma Scott e uma GT.
E é aqui que o Júlio dá o primeiro sinal do que viria a ser uma constante ao longo da manhã; arranca desalmadamente na frente para dar início à prova. Tal deve-se, segundo o Luís, a estar com “fogo no rabo”, eu penso que estava acometido de uma síndrome JJ (leia-se Jorge Jesus) e queira arrasar-nos. Estudando melhor a coisa, seria talvez para fazer notar os seus novos calções…
Primeiras centenas de metros percorridas e desenhava-se o quadro que mais se repetiria, o Júlio sempre nos lugares da frente e eu sempre na rectaguarda desenvolvendo um trabalho importantíssimo para a equipa e sem ser valorizado; o de lhe proporcionar momentos de descanso sempre importantíssimos ao mesmo tempo que lutava ferozmente para fazer baixar a média horária da equipa para que esta se tornasse mais verosímil… É importante referir aqui as dificuldades técnicas em afinar a altura do meu selim ao mesmo tempo que este teimava em descer.
Resolvida a primeira parte dessa questão, pude enfim observar sempre atentamente a paisagem rural/agrícola que nos acompanhava.
Entravamos agora em estrada de asfalto e nova animação - sim, agora eu estava reunido com o resto da equipa - com o Luís Barata em amena cavaqueira com uns canídeos que nos acompanhavam. Santarém aproximava-se perigosamente, ou seja, as subidas também.
Os trepadores lá desaparecem enquanto eu pude contar com a ajuda da minha única lebre, o Luís Pires que numa atitude plena de colectivo me levou até perto do primeiro lugar de abastecimento já na cidade do moita… perdão… de Santarém. Apenas uma paragem a meio da subida quando uma local me viu aproximar, tossiu e gritou: “Lá vem o gripe!!”. Escangalhei-me todo e tive de parar ao pé do seu marido que assava umas febras no meio de televisões, rádios, motorizadas e um montão de não-sei-o-quê…
Chegado ao local de reabastecimento já a equipa se deleitava no exterior de um estabelecimento que interiormente era completamente forrado a azulejo branco, superiormente combinado com mobiliário de cozinha. Fomos muito bem recebidos. Esperavam-nos bolinhos secos feitos pelos frequentadores do local e gentilmente oferecidos em nome do dia de Todos-os-Santos, e segundo os próprios “se não quiserem, vocês é que perdem…”. Mas os compromissos publicitários são para cumprir e tivemos de fazer a nossa parte do contrato de patrocínio. E esvaziámos umas mines… Aqui fomos alertados por um freguês para uma hipotética incompatibilidade entre a prática deste desporto e os referidos compromissos publicitários.
Energias repostas e passeio pela cidade de Santarém a caminho das Portas do Sol para o final da primeira etapa. Tempo ainda para uma visita à nossa amiga Sara que, bem-disposta como sempre, nos recebeu muito bem.
Primeiro a chegar às Portas do Sol fui eu!! Sim, escrevam o que quiserem mas o primeiro fui eu!! Por alí eram controladas médias, tempos, velocidades, declives, mapas, etc… enquanto eu tentava perceber o que é pedalar numa montada com menos 3 ou 4 kg que a minha. Mas como tive oportunidade de referir “não é por aí…”
Início da segunda etapa e descida vertiginosa a caminho da ponte sobre o Rio Tejo. Qual kamikazes desapareceram todos à minha frente e do Luís Pires, tendo reunido toda a gente a seguir à ponte e antes de entrarmos lezíria adentro. Aqui pude constatar que a qualidade do meu selim começava já a deixar marcas dolorosas, talvez por estar posicionado demasiado alto. O que eram estradões de terra para somar quilómetros, começaram a ser suplícios com covas, valas e depressões constantes, que impediam que pedalasse mais depressa ao mesmo tempo que provocavam dores em zonas onde não convém… Chegado a mais um reagrupamento (ou seja, onde a equipa me espera) pude verificar que tal se devia ao nível incorrecto do selim. O que parecia demasiado técnico quando referido pelo João Papa Alves tornava-se aqui de extrema importância (h x 0,886 = distância do centro da pedaleira ao topo do Selim, em que h = distância do chão à base dos tins-tins)(*) . Selim nivelado e siga estrada fora, tal qual o hino do “nosso” Clemente…
Mais uma etapa a solo, quando dou com a equipa desmontada, num local estranho e com o mapa na mão. Humm, mau… Algo se passa aqui. Nem mais, a ponte que deveríamos atravessar ruiu…
Notícia animadora para quem já vinha em sofrimento… Única solução, voltar para trás e atravessar o rio na ponte anterior… onde tínhamos estado parados. Isto implicou uns míseros 10 km adicionais….. e nenhuma desilusão se notava na face dos outros elementos da equipa que alegremente voltaram para trás, enquanto que para mim psicologicamente isto era arrasador. Voltar para trás quando o contador já contabilizava mais de 40 kms… Bem, mas com umas barras energéticas emprestadas lá consegui voltar. Passamos a ponte e pude vislumbrar aquilo que para mim foi um revigorante: asfalto!! E assim lá galgámos mais uns quilómetros passando por essa bela terra que é Benfica do Ribatejo (confirmem) a ritmo para mim bem mais elevado e que deu para elevar um pouco mais a moral já bastante danificada. Reagrupados e com a equipa a empurrar-me verifiquei que o Júlio continuava com o “fogo-no-rabo” e marcava o ritmo. Sem dúvida que a Specialized veio revelar um outro BTTista. Ou será dos calções?!
Tudo corria (razoavelmente) bem, até porque a prova se aproximava do fim (ou do almoço), quando chego à ponte Rainha D. Amélia. Para quem não sabe, foi projectada por Eiffel inicialmente para tráfego ferroviário, e foi durante muito tempo a ponte rodoviária de via única com o tabuleiro mais extenso, cerca de 800 metros. Aqui, parado e já sem avistar a equipa, verifiquei que só tinha duas opções para atravessar a ponte; ou cumpria a lei e pedalava pelo estreito corredor sendo a queda mais que certa, ou esperava por uma aberta e tentava passar pela faixa de rodagem rezando para que não aparecesse nenhum carro da GNR. “Como terão feito eles?” perguntava-me… Optei por uma terceira alternativa, pelo corredor, desmontado. Do outro lado esperava-me o João, os outros seguiram para procurar poiso para o almoço já tardio e receber a família do Júlio que já nos devia aguardar…
“A Valada é já ali” dizia-me o João como se pudesse animar a minha mais que esgotada alma.
Um final dramático a 500m da meta, com um quase desfalecimento por falta de comida, bebida, animo… Mas ainda assim, recebido no final com uma ovação após 59 kms de prova, sangue, suor e lágrimas.
No final, valeram as enormes bifanas (daquelas que se vão fazendo durante a semana, segundo o Barata) num excelente pão. Ah!!... E os calções do Júlio…
É verdade, já repararam que não se falou no Quim Manços???? Pois é, o mentor do nosso blogo-projecto teve falta!!! …mas a falta foi mais do que justificada; o Manços passou o dia no país das maravilhas a comemorar o 5º aniversário da filha Alice!!!
Parabéns Alice!!!!!!!!!!
(*) ver comentário #4
Texto: Fernando Palma
edit: Jseabra
Uéé!?! Cadê as foto???
ResponderEliminar....gramava de saber o que é que o Palma está a fazer a Sara......
ResponderEliminarFanã, antes de mais quero dar-te os parabéns! A tua prova foi a mais marcante. Sem qualquer dúvida, a carica desta prova devia ser entregue à tua pessoa!!
ResponderEliminarDepois, adorei o teu discurso encomiástico em relação aos CALÇÕES do Júlio!!!
... ainda bem que eu conheço a Teresa! (embora nos tempos que correm isso não queira dizer muita coisa...).
Mas posso dizer-te que os compramos numa mera loja de desporto sobejamente conhecida. Deve haver o teu nº, e ficar-te-iam muito bem!!
Aliás, sugiro a todos os mineistas para aderirem a estes calções tão confortáveis, segundo consta. Mas com a condição de não mudarem o nome para Shorts Sexy Bike Team. Ok?? (...nem quero saber das reacções... dos machos... aaaiiiii)
E, sim. Aquelas bifanas naquele pão eram divinais... o molhinho, o tempero... upa upa
Foi um almocinho apetiscado bem fixolas!
Mais uma vez, parabéns pela grande prova e que as tantas queixas não te deixem desanimar para outras futuras!!
Abreijos
Vanda (a gaja que deu os calções ao Júlio!)
#4
ResponderEliminarClaro está que todos perceberam que no texto inicial, a cientificidade da fórmula não estava correcta. O nosso consultor João Alves deu pela gralha, não perdoou e não hesitou em enviar-me a devida correcção via sms (que é a que consta actualmente no texto). A todos, as minhas sinceras desculpas e toca a acariciar a base dos tin-tins com os comandos da tv/dvd/hi-fi.....(atenção Fernando: é na HORIZONTAL!)
Graças à tua informação errónea já está muita gente a padecer de luxações, distenções e outras lesões musculares.
ResponderEliminarShame on you Mr. Seabra